O fotógrafo de arquitetura José Campos teve o privilégio de ter nascido em um paraíso arquitetônico: Porto, em Portugal. Tendo estudado arquitetura e design gráfico, Campos traz um olhar maduro e uma atenção perspicaz ao detalhe, à luz e às cores em cada uma de suas fotografias. Sua obra já foi publicada em dezenas de livros e revistas reconhecidas internacionalmente. O ArchDaily entrevistou Campos para saber mais sobre o início de sua carreira e seu processo artístico. Leia a entrevista completa e vejas algumas de suas impressionantes fotografias, a seguir.
1. Como e quando começou a fotografar?
Desde muito novo que a possibilidade de ver o mundo através da lente me fascinou. O que desde sempre foi encarado como um hobby passou a se tornar mais sério no decorrer do curso de Arquitetura quando alguns colegas me convidaram a fotografar suas obras/projetos. A paixão pela fotografia aliada à minha área de estudo acabou por se unir naturalmente, de projetar edifícios passei a fotografar edifícios, tornando-me, assim, profissional.
2. Você é arquiteto?
Sim, sou arquiteto e atrevo-me a afirmar que esta é uma condição fundamental para se ser um bom fotografo de arquitetura. Creio que é uma área da fotografia tão especifica que a formação académica adquirida se revela primordial para se ter mais sensibilidade em perceber o projeto/programa. Deste modo, os meus conhecimentos técnicos me permitem percorrer as obras muito à vontade, ajudando-me a focar de modo critico em meu trabalho. Vejo a fotografia de arquitetura como um trabalho que, muitas vezes, considero de reinterpretação, ou seja, sinto que os meus conhecimentos e background acadêmico me ajudam a ressaltar e apresentar os projetos de outros através da fotografia.
3. Por que gosta de fotografar arquitetura?
Deste modo consegui aliar minhas duas áreas de interesse: a fotografia e a arquitetura. Gosto de fotografar ângulos, os contrastes, as diferentes texturas, a relação entre o escuro e o claro, gosto de perceber a integração dos edifícios com a sua envolvente. É através da fotografia que podemos ter uma noção mais aproximada do real, tento que a minha fotografia o faz sem distorções nem falsidades. Gosto de saber que as pessoas irão refletir sobre a natureza do projeto. Acho extremamente importante que, enquanto artista/fotógrafo, consiga fazer uma fotografia fiel à realidade pois estou a comentar a obra/visão de outros, não deixo no entanto de me expressar artisticamente através da minha lente.
4. Arquiteto favorito?
É uma questão difícil e parece-me que não deva nomear um, mas tenho tido a sorte de conseguir trabalhar com arquitetos que admiro e fotografar obras que de alguma forma me impressionam. Para mim é importante sentir-me atraído pela obra e pelo conceito em si.
5. Edifício favorito?
Para mim o fascínio que um edifício tem é algo muito difícil de alcançar e ainda mais difícil de manter. Portanto, o meu edifício favorito é sempre aquele que está “no futuro”, o que eu não vi ainda, aquele que irei fotografar em seguida!
6. Como você trabalha?
Muitas vezes depende do projeto e do tempo que tenho para a realização das fotografias. Normalmente, antes de fotografar, tento perceber, através das plantas, como é que o edifício é, como foi construído. Idealmente gosto de visita-lo sem câmera, para perceber quais são os ângulos mais interessantes. Gosto de trabalhar sozinho e gosto da paz que muitas vezes os edifícios me trazem quando os fotografo vazios. Depois disto, gosto de me reunir com a equipe de arquitetura para que me transmitam sua visão do programa em questão, assim como os aspectos que querem dar destaque. Começo aqui a desenvolver a minha própria percepção de como irei fotografar. Procuro controlar bem a luz porque sem luz não conseguimos fazer a fotografia. Na arquitetura é importante perceber a profundidade, o contraste entre o claro e o escuro, os cheios e os vazios e, principalmente, os enquadramentos, que acho que é o mais importante. As boas fotografias são as que provocam emoções, sensações.
7. Que tipo de equipamento e softwares você usa?
Eu faço muitas fotografias sem câmera, pois com o digital é fácil começar a disparar e nunca mais acabar. Muitas vezes faço as fotografias só com o olhar. Posso dizer que deste modo o equipamento mais valioso que tenho são os meus olhos. Em relação ao equipamento propriamente dito, uso o mais recente e especifico para fazer a fotografia de arquitetura, aliado aos softwares correntes de tratamento de imagem digital.